Wednesday, October 27, 2010

CARTA PARA A POPULAÇÃO DO NORTE/NOROESTE FLUMINENSE

Aproveitando o clima eleitoral que toma conta do nosso país, divulgo a carta elaborada pelo meu amigo George Gomes Coutinho e endossada por diversos colegas do norte/noroeste fluminense, incluindo este que vos escreve.


Campos dos Goytacazes, 26 de outubro de 2010

CARTA PARA A POPULAÇÃO DO NORTE/NOROESTE FLUMINENSE


CIDADÃOS E CIDADÃS DAS REGIÕES NORTE E NOROESTE FLUMINENSE


Nós, PROFESSORES E PESQUISADORES que atuamos nas regiões Norte e Noroeste Fluminense, vimos nos dirigir a todos que contribuem para a construção da sociedade brasileira nesta delicada conjuntura eleitoral. Queremos dar nosso testemunho do quanto é importante votar na DILMA PARA PRESIDENTE para garantir e ampliar as conquistas do nosso povo com o Governo Lula.

A razão desta carta é a defesa veemente da continuidade e do necessário aprimoramento dos investimentos na EDUCAÇÃO, na produção de conhecimento, de pesquisa e na formação de profissionais de excelência no Brasil. Este círculo virtuoso tornou-se realidade justamente com a chegada do Partido dos Trabalhadores e de LULA no executivo federal. Há dados oficiais de diferentes origens que podem atestar o que afirmamos.

Muitos de nós acompanhamos “a grande noite” da temerária gestão do senhor Paulo Renato de Souza, ministro da Educação de Fernando Henrique Cardoso. Seja enquanto servidores públicos ou estudantes vivenciamos a situação de precariedade infra-estrutural, a ausência de concursos públicos, a quantidade irrisória de verbas para a produção de pesquisa o que fez com que os docentes daquele período amargassem achatamento salarial e lidassem invariavelmente com sua criatividade e disposição altruísta no ofício científico. Outros tantos aposentaram-se ou simplesmente se demitiram por não considerarem minimamente atraente a permanência na carreira docente durante os anos de gestão de PSDB. Era comum na época a expressão “fuga de cérebros” que representa, de forma trágica, prejuízos financeiros e simbólicos irreparáveis para o nosso país. Nos Governos do PSDB não se construíram Escolas Técnicas nem Universidades Públicas. Para estudar, só pagando. Foi uma política contra os pobres, contra a maioria do povo.

A recuperação e substantiva ampliação da rede federal de ensino, no âmbito técnico e superior, tornou-se prática sistemática somente após o término deste período de trevas, quando, por exemplo, a biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ ficou simplesmente fechada por um longo período em virtude da ausência de manutenção.

Por tudo isso, em defesa da qualidade do ensino público gratuito e de qualidade, que não se resume somente a Escolas Técnicas, como demagogicamente aponta oposição, vimos lhes convidar para a reflexão necessária.

Devemos ao Governo Lula e à filosofia de trabalho da candidata DILMA ROUSSEF o aumento das vagas e do acesso dos estudantes das famílias mais pobres tanto ao ensino técnico quanto ao ensino superior gratuitos. Além disso, contamos com o futuro GOVERNO DILMA para continuar as políticas de EMPREGO E RENDA que aumentaram enormemente o emprego, a quantidade de trabalhadores com carteira assinada, o salário mínimo e a política de assistência, com o Bolsa Família, o PRONAF, além de muitos outros. A continuidade dessas políticas é fundamental para que os jovens das famílias mais pobres possam se dedicar totalmente ao estudo e à formação profissional e PARA QUE TODOS OS BRASILEIROS TENHAM UM FUTURO MELHOR.


VOTAREMOS, NESTE ESPÍRITO, NA CANDIDATA DILMA ROUSSEF DO PARTIDO DOS TRABALHADORES, NA CERTEZA DE QUE SÓ DILMA PODERÁ GARANTIR A CONTINUIDADE DA INCLUSÃO DE TODOS OS BRASILEIROS NOS DIREITOS DE CIDADANIA.

Votarão 13 no dia 31 de outubro:

Prof. Ana Maria Almeida da Costa UFF-Universidade Federal Fluminense

Artur Dalla Cypreste, Mestrando do PPGSP - Programa de Pós Graduação em Sociologia Política da UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

Betina I. Terra Azevedo Arenari - Professora Instituto Federal Fluminense e mestra em Biotecnologia pela UENF

Brand Arenari - Doutorando em sociologia na Universidade Humboldt Berlim-Alemanha

Prof. Carlos Eugênio Soares de Lemos, Professor Adjunto de Teoria Social e Coordenador da Universidade da Terceira Idade - UFF- Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes

Daniel Pinheiro Caetano Damasceno – Bacharel em Ciência da Educação - UENF (2006) Mestre em Sociologia Política - UENF (2009) e Doutorando em Sociologia Política – UENF

Prof. George Gomes Coutinho – Professor Assistente de Sociologia UFF- Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes e Doutorando em Sociologia Política UENF

Gerson Tavares do Carmo - Professor Institutos Superiores de Ensino do CENSA / Professor do Programa de Licenciatura PARFOR-Uenf / Recém Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Uenf

Prof. Guilherme Vieira Dias - Professor de Geografia do Instituto Federal Fluminense (IFF) e da rede estadual de ensino.

Prof. Halisson dos Santos Paes - Professor da Universidade Cândido Mendes e do ISECENSA - Instituto de Ensino Superior do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora.

Prof. José Luis Vianna da Cruz – Diretor do Polo Universitário da UFF em Campos dos Goytacazes

José Henrique Mendes Crizostomo - Sociólogo e mestrando em Sociologia Política pela UENF

Lorena Rodrigues Tavares de Freitas Graduação em Ciências Sociais (UENF) Mestrado em Ciências Sociais (UFJF) Doutoranda em Sociologia Política (UENF)

Prof. Maycon Bezerra de Almeida - professor de Sociologia do Instituto Federal Fluminense

Manuela Vieira Blanc, doutoranda PPGSP/UENF

Marcus Cardoso da Silva Mestrando Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política UENF

Paulo Sérgio Ribeiro da Silva Jr. Sociólogo e Mestre em Políticas Sociais (UENF). Doutorando em Sociologia (UNESP-Araraquara

Renan Lubanco Assis – Licenciado em História pela Uniflu (Campos, RJ) (2007) e Mestrando em Sociologia Política pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).

Rafael Pinheiro Caetano Damasceno - Doutorando em Sociologia Política – UENF

Prof. Roberto Moraes – Instituto Federal Fluminense (IFF)

Roberto Dutra Torres Junior - Doutorando em Sociologia pela Humboldt Universität zu Berlin

Prof. Rodrigo Anido Lira - Professor da Universidade Candido Mendes

Prof. Rodrigo Rosselini Julio Rodrigues - Professor do Instituto Federal Fluminense

Sana Gimenes Alvarenga Domingues - Mestre pelo PPGSP/UENF

Prof. Dr. Thiago Motta Venancio - Pós-doutorando do National Institutes of Health (EUA) até 25/11/2010 e Professor Associado do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) - UENF a partir de 27/11/2010

Yolanda Gaffrée Ribeiro. Mestranda em Sociologia Política - UENF

Tuesday, October 5, 2010

Ciência e tecnologia - Eleições

Como não poderia deixar de ser, as eleições têm dominado os veículos de comunicação tradicionais e virtuais. Apesar de estar fora do país, tenho acompanhado com interesse as discussões e até mesmo alguns debates. Neste post, comento algumas das minhas visões sobre os candidatos e as políticas de ciência e tecnologia (C&T), sob a luz de dois editoriais publicados recentemente na revista Nature, um dos periódicos de maior credibilidade na comunidade científica.

O primeiro deles, de junho deste ano, pode ser lido aqui (em inglês) e apresenta uma visão extremamente positiva sobre a política de investimentos do governo Lula em C&T. O artigo ressalta a produtividade científica do Brasil, mesmo quando comparada com as da Índia, China e Rússia, que conosco compõem os BRICs. Apesar de ter votado no Lula, fiquei realmente impressionado com a quantidade de investimentos no setor, construção de várias universidades federais, realização de concursos públicos e do aumento significativo da quantidade financiamentos para pesquisa. Francamente, não esperava tanto. Ressaltemos ainda a brilhante atuação de Sérgio Rezende a frente da pasta, sendo um dos principais catalizadores desta série histórica de mudanças que presenciamos nos últimos anos.

O segundo artigo, publicado alguns dias antes das eleições, fala novamente dos progressos do país sob o comando de Lula, enfatizando a importância da C&T na sua agenda, refletida nos números. Finalmente achei a informação que procurava:


No gráfico acima, retirado do artigo mencionado, vemos o investimento em C&T (barras vermelhas) representado em relação ao PIB (azul). Notem como a porcentagem do PIB alocado a C&T aumenta ao longo dos anos. Isso é uma resposta aqueles que acham que tais investimentos só aumentaram porque a economia vai bem. A economia vai bem sim, felizmente. Mas certamente podemos afirmar que a política de investimentos em C&T vai melhor ainda.

A autora do editorial especula ainda que uma eventual vitória de Serra não seria "necessariamente ruim". Necessariamente ruim, talvez. Mas provavelmente ruim. Basta analisar o gráfico acima e recapitular da situação da maioria das universidades públicas no período pré-Lula. Isso sem contar as inúmeras tentativas do governo FHC de sucatear as universidades federais. Também não simpatizo com a Marina, especialmente dadas as suas posições conservadoras contrárias ao aborto, pesquisa com células tronco embrionárias, casamento entre homossexuais, transgênicos etc. Todas devidamente fomentadas por seus ideais criacionistas. Quem quiser ler mais sobre o assunto pode checar aqui, aqui e aqui ou procurar mais fontes no Google.

Infelizmente não pude votar no primeiro turno. Se o tivesse feito, teria votado na Dilma. Meu voto é dela no segundo turno, que ocorrerá alguns dias após o meu retorno ao Brasil. Em tempo, a onda da investimentos em C&T foi um dos principais fatores que me fizeram prestar concurso e voltar ao Brasil, especificamente a minha querida UENF. Espero que esta fase continue, pois os frutos serão colhidos no futuro próximo na forma de uma nova geração de cientistas que semearão o desenvolvimento do Brasil. Neste post, me restringi a C&T. O aspecto político como um todo já foi bem discutido pelo Azenha, PH Amorim e, na esfera local, pelo pessoal dos blogs Outros Campos e Planície Lamacenta.

PS: Não deixem de ver a atuação sofrível dos trolls na parte de comentários dos artigos da Nature.

Friday, October 1, 2010

Saturday, August 21, 2010

Jogo duro: mecanismos genéticos da cooperação

A existência de comportamentos cooperativos na natureza é uma questão que há séculos desafia a curiosidade de cientistas, pois se apenas o indivíduo mais adaptado (não o mais forte) sobrevive, genes que estejam relacionados com a cooperação deveriam conferir desvantagem, sendo então eliminados da natureza ao longo das gerações. Um grupo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), publicou ano passado um artigo importante mostrando bases genéticas que explicam a vantagem evolutiva da cooperação.

O grupo utilizou a levedura Saccharomyces cerevisiae como modelo, dada a facilidade de manipulação genética e crescimento em laboratório. A levedura consome preferencialmente glicose, que pode ser capturada diretamente do ambiente. Na ausência de glicose, sacarose pode ser usada. No entanto, a sacarose não pode ser absorvida diretamente e a levedura precisa secretar uma enzima chamada invertase, que quebra a sacarose em glicose e frutose, que são então absorvidos. Como tal processo ocorre fora da célula, uma levedura mais "esperta" poderia tirar vantagem do processo e absorver glicose sem produzir invertase - uma forma de trapaça que pode conferir vantagens significativas e até mesmo extinguir as leveduras que produzem invertase caso toda a glicose produzida se dilua no ambiente.

Os experimentos iniciais mostraram que os cooperadores têm acesso preferencial a 1% da glicose gerada pelo seu trabalho, sendo o restante diluído no ambiente, podendo ser usado por trapaceiros. A ideia do grupo foi então colocar uma população cooperadora (produzindo invertase) para competir com outra trapaceira (não produtora de invertase). Como esperado, os autores observaram que uma pequena fração de trapaceiros pode invadir a população de cooperadores. Surpreendentemente, o oposto também ocorre, pois aquele 1% de glicose que os cooperadores conseguem garantir lhes confere uma vantagem significativa num meio dominado por trapaceiros. Em resumo, sempre é alcançado um equilíbrio entre trapaceiros e cooperadores. Além disso, tal equilíbrio é independente da fração inicial de cooperadores.

O grupo elaborou mais um experimento elegante, modificando geneticamente os cooperadores de maneira que seu crescimento dependa da absorção do aminoácido histidina. Assim, o custo da cooperação pode ser controlado a partir da quantidade de histidina fornecida. Por exemplo, quanto menos histidina fornecida, mais cara é a cooperação. Os pesquisadores descobriram então que quanto maior o custo da cooperação, menor a fração de cooperadores e menor o crescimento de todos, pois os trapaceiros dependem do trabalho dos cooperadores para obter glicose.



O estudo de tal equilíbrio é muito interessante, pois muita glicose no ambiente repleto de cooperadores favorece fortemente a invasão de trapaceiros. Se a glicose é fornecida de forma constante, os cooperadores podem ser até mesmo levados a extinção. Neste caso em particular, a co-existência entre trapaceiros e cooperadores também parece ocorrer na natureza, onde populações com diferentes números de cópias do gene da invertase podem co-existir. Os resultados podem ser explicados pela teoria dos jogos, ramo da matemática que estuda situações estratégicas onde os jogadores tentam maximizar seu retorno. Mais especificamente, o caso do equilíbrio entre leveduras cooperadoras e trapaceiras é melhor acomodado pelo jogo do monte de neve (snowdrift game), em que dois motoristas estão parados em frente a um monte de neve. Neste jogo, a melhor decisão é sempre a oposta do outro. Se o motorista A limpar a estrada, o melhor que o motorista B pode fazer é ficar no carro. O pior cenário possível é se ninguém sair para retirar a neve.

A levedura é um ótimo modelo para estudar as bases genéticas da cooperação, pois as decisões são tomadas com base na genética em resposta ao ambiente (ao contrário dos humanos, onde decisões são influenciadas decisivamente por pensamentos e emoções). O estudo abre ainda a possibilidade de estudar outras situações que podem envolver o equilíbrio entre trapaceiros e cooperadores, como por exemplo na degradação de amido. Seria ainda interessante buscar modelos que permitam estudos similares em espécies multicelulares.

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Referência e figura:
Gore J, Youk H, van Oudenaarden A. Snowdrift game dynamics and facultative cheating in yeast. Nature. 2009; 459(7244):253-6. PMID: 19349960; PMCID: PMC2888597; doi: 10.1038/nature07921

Friday, August 13, 2010

Importância da pesquisa básica

Neste post inaugural do meu novo blog abordarei uma questão recorrente em conversas com amigos: a aparente (ou real) controvérsia entre pesquisa básica e aplicada.

A pesquisa básica é normalmente definida como aquela inspirada pela curiosidade científica, não direcionada a geração de um produto ou lucro (ex: estudo da origem do universo ou do código genético do cachorro). Tais pesquisas buscam o entendimento das bases fundamentais de todos os ramos científicos. É a pesquisa básica que provê o alicerce necessário para que a pesquisa aplicada possa prosperar na resolução de problemas específicos objetivando melhorar diretamente a vida das pessoas.

A complementaridade da pesquisa básica e aplicada pode ser exemplificada com o estudo de câncer, onde faz-se necessária o entendimento dos aspectos moleculares da proliferação descontrolada de células que normalmente caracteriza a carcinogênese. Com o conhecimento acumulado ao longo de décadas de pesquisa básica, empresas farmacêuticas podem desenvolver novos fármacos e realizar os testes de segurança e eficácia do medicamento.

É muito comum as pessoas clamarem investimentos governamentais em pesquisas com aplicações diretas, potencialmente geradoras de lucro. Frases como "vamos curar o câncer" ou "vamos criar fontes de energia limpa" sempre têm mais apelo popular do que a defesa da pesquisa baseada na curiosidade científica, tratadas como meras excentricidades acadêmicas com financiamento governamental. Apesar da pesquisa básica ter um caráter essencialmente incremental, não podemos deixar de citar alguns exemplos marcantes, como a Internet e a descoberta da penicilina, frutos de projetos acadêmicos (até não intencionais, como no caso da penicilina).

O assunto é complexo e devo retornar com mais postagens a respeito num futuro próximo. Por fim, deixo o excelente vídeo do Brian Cox, falando sobre a necessidade da pesquisa baseada na curiosidade. Basta clicar em "View subtitles" (ao lado do botão play), para ativar a legenda em português do Brasil.